Quem me garante que, para além do meu mundo, existe outro? Eu tenho as minhas ideias, as minhas opiniões fixas, os meus ideais de vida, mas, será que fazem sentido? Será que é possível concretizar tudo isto num mundo fora de mim? Hoje está frio. E chove. Eu sinto o frio e ouço a chuva através da janela, mas, será que tu também ouves? A senhora que apresenta o noticiário, será que ela também sente o mesmo frio que eu? Será que o meu perfume preferido é tão intenso para aquele rapaz que vi no centro comercial como para mim? São respostas que nunca ninguém conseguiu apanhar na corrente marítima; são daquelas respostas que desaparecem com a força de uma maré alta ou de uma agitação marítima. Quanto à minha existência como pessoa, argumento-me com uma frase do nosso célebre Descartes: “eu penso, logo, existo”. Tenho a vantagem de existir ao pensar, já não é mau. Mas, será que existo para o mundo ou só existirei para mim mesma? Como referi anteriormente, a senhora que apresenta o noticiário jamais me conhecerá, visto que estou tão longe dela e nunca nos vimos; isso é normal. Mas, deixando as teorias básicas, será que ela sente como eu? Eu sei, eu sei, está provado que ninguém tem um cérebro igual e que os nossos cérebros são moldados de acordo com as nossas experiências de vida, mas quem me garante que não há outra pessoa com as mesmas vivências que eu? Chamar-lhe-iam “coincidência”, não era? Pois eu não sei o que lhe chamar; apenas sei que ficarei sempre na dúvida se alguém pensará ou sentirá como eu, nem que seja apenas por uma única vez. Como será compreender o que uma pessoa sente sem essa pessoa ter de arranjar palavras que expressem (de uma maneira muito fraca) o que sente? Ser-me-ia bastante fácil olhar para ti e compreender logo o que sentes; se gostarias do meu perfume como eu gosto e se sentirias o frio que eu sinto. Na minha opinião, a magia do ser humano é precisamente a de não nos compreendermos facilmente e de nunca sabermos o que vai acontecer. Como ocuparia o meu tempo? Afinal de contas, perder tempo a pensar se o rapaz do centro comercial acharia o perfume intenso, faria com que eu lhe desse importância e faria, de certo modo, com que eu achasse alguma magia nesse pensamento. Se soubesse a resposta assim que visse o rapaz, não teria piada nenhuma. Interessar-me-á se o mundo exterior a mim existe? Na verdade, eu acho que não. Eu não perco tempo a pensar de que forma tu sentes a música ou de que jeito tu ouves a chuva à janela. Eu perco muito mais tempo a organizar os meus objectivos e a tentar realizá-los de qualquer forma. Não quero saber se existo ou se apenas penso, pois é-me muito mais saudável e gratificante pensar do que existir para um mundo que, afinal de contas, é exterior a mim e me é completamente desconhecido. Mas lá no fundo, eu acho que tu existes. E sabes? Eu também; nem que seja só na minha mente.

DanielaPeralta.

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